Você está em Ajuda > Artigos

O Resgate dos Brinquedos numa Perspectiva da Etnomatemática

Estélen Wolff Freitas

Juatificativa e aportes teóricos

Minha prática pedagógica está centrada na importância do brincar, buscando resgatar os valores dos brinquedos e brincadeiras que pais/avós dos alunos vivenciaram em tempos atrás. Penso que esse tema está diretamente ligado com a realidade em que meus alunos estão vivenciando nesse momento. Nossa Escola está impedida de proporcionar, aos alunos, aqueles minutos de recreio em razão de estarmos passando por um período de ampliação do prédio. Em vista disso, o pátio que antes era “invadido” por alunos com “sede” de brincar, agora dá espaço para barulhentos caminhões, patrolas e materiais de construção em geral. O único espaço vago, até o final desse ano letivo, é na entrada da Escola, que talvez regule com o tamanho de uma sala de aula. 

Como (MONTEIRO, 2004, p.440) relata é nesse contexto vivencial que devemos procurar identificar os usos e práticas dos saberes matemáticos ali presentes, bem como a interpretação que os indivíduos fazem dessas práticas e saberes. Segundo a autora, a pluralidade cultural de um grupo é evidenciada no cotidiano dos alunos, em suas diferenças e proximidades nas formas de resolver seus problemas; desse modo, é fundamental que o professor bem como a equipe pedagógica da escola se volte com um olhar crítico para o cotidiano em que estão inseridos. (idem, p.441)

Concordo quando a autora salienta que a equipe pedagógica da Escola também deve ter um olhar crítico para a situação dos alunos, pois muitos professores acabam assumindo sozinhos os problemas de um contexto que, na realidade, tem que ser assumidos por toda a comunidade escolar. O trabalho surte mais efeito e as questões podem ser melhores resolvidas quando há um engajamento de todos. 

Tendo em vista toda essa realidade, tenho por objetivo, desenvolver um projeto voltado para o resgate dos brinquedos que foram utilizados pelos pais/avós na sua infância. Assim, pensei que pudesse conciliar essa idéia e trazê-la para a sala de aula, tentando suprir a necessidade desse brincar e até mesmo das brincadeiras violentas que fazem parte da realidade cultural desses alunos. “Incorporar a cultura, á vida dos alunos nas práticas pedagógicas está sendo analisado em diversas teorizações como uma das possibilidades para construir um currículo que busca a inclusão social”. (SCHMITZ, 2004, p. 411)

Por que, então, resgatar esses brinquedos que antigamente eram usados e até fabricados no quintal de casa e hoje se encontra tão esquecidos nesse contexto? Pela Escola estar localizada em um bairro de periferia, as brincadeiras vivenciadas por nossos alunos estão muito voltadas para a violência. Penso que trazendo à tona alguns desses brinquedos, poderei ao menos proporcionar momentos em que os alunos descobrissem outras brincadeiras interessantes e que também proporcionassem prazer.

A partir desses argumentos, sublinho uma afirmação feita por (D’AMBRÓSIO, 2004, p.46) onde diz que, naturalmente, em todas as culturas e em todos os tempos, o conhecimento, que é gerado pela necessidade de uma resposta a problemas e situações distintas, está subordinado a um contexto natural, social e cultural.

O presente projeto tem como aportes teóricos o campo da Etnomatemática e esta “procura entender a realidade e chegar à ação pedagógica de maneira natural mediante um enfoque cognitivo com forte fundamentação cultural” (PCNs, 1998, p.33). 

O termo Etnomatemática foi proposto em 1975, por Ubiratan D’Ambrósio para descrever as práticas matemáticas de grupos culturais, sejam eles uma sociedade, uma comunidade, um grupo religioso ou uma classe profissional. Essas práticas são sistemas de símbolos, organização espacial, técnicos em construção, métodos de cálculos, sistemas de medida, estratégias de dedução e de resolução de problemas e qualquer outra ação que possa ser convertida em representações formais. (D’AMBRÓSIO, 2002)

A transdiciplinariedade está bem presente na proposta que pretendo desenvolver, pois, sobretudo, necessitamos dessas transações entre as disciplinas para enriquecer e aprofundar cada conteúdo desse projeto. 

Tendo em vista estas considerações o programa etnomatemática intrinsecamente traz uma atitude transdisciplinar, decorrente de outra visão de natureza e de realidade, e que, ao partir da confrontação de disciplinas, faz aparecer dados novos engendrando uma nova interfundamentação destas disciplinas (D’AMBRÓSIO, apud AMÂNCIO, 2004, p.53).

Para tentar estimular nessas crianças o gosto por brincadeiras mais saudáveis e que podem muito bem ser realizadas dentro de uma sala de aula, pretendo buscar através dessa prática o resgate dos brinquedos relacionando-os aos estudos que venho fazendo sobre a Etnomatemática. Para (FRANKSTEIN, 1997a, p.4) “a matemática ocorre em contextos, integrada com outros conhecimentos do mundo”.

Acredito que um assunto como este é de suma importância, pois as crianças necessitam das brincadeiras e porque não aproveitar a situação que estamos vivendo em relação ao espaço e unir algumas vivências partindo da família deles? Acredito que, com a execução dessa prática, os alunos darão mais valor a certas brincadeiras, pois terão a oportunidade de criar seus próprios brinquedos os quais farão parte das nossas aulas até o final deste ano letivo.

Próxima página >>

Como referenciar: "O Resgate dos Brinquedos numa Perspectiva da Etnomatemática" em Só Matemática. Virtuous Tecnologia da Informação, 1998-2024. Consultado em 28/03/2024 às 08:47. Disponível na Internet em https://www.somatematica.com.br/artigos/a11/

Curso on-line do Só Matemática

Coleção completa das videoaulas do Só Matemática para assistir on-line + exercícios em PDF sobre todos os assuntos, com respostas. Clique aqui para saber mais e adquirir.