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O matemático e o Jogo Interior II

O matemático do JI não imagina, nesse contexto, como alcançar o ser do objeto nesse sentido de existência independentemente e fora de sua psique. Porque, enquanto matemático, não se sente autorizado a dar passos largos em dimensões incertas e não fundamentadas. Não se sente autorizado a supor a existência de qualquer coisa que não seja uma imaginação de primeiro nível que impõe-se inexoravelmente.
O matemático e o Jogo Interior I

Mesmo que existisse um objeto fora da psique, o matemático do JI só poderia imaginá-lo, sempre recorrendo a modelos, e nada mais do que isso. A vida prática humana é exatamente isso para o matemático do JI, ou seja, é uma interminável construção de modelos, ou de imagens estruturadas, dos objetos supostos existentes fora e independentemente da psique. As outras psiques são, por exemplo, imaginadas como "iguais", o que explica, em parte, a origem de alguns dos enormes problemas de relacionamento humano, porque essa hipótese implica em que "os outros" responderão aos estímulos "da mesma forma que eu imagino que faria ou que desejo", ou ainda, que agirão de um certo modo porque "os conheço" ou "sei quem são eles". Não podemos estudar aqui, nesse momento, o problema dos "outros".

Entretanto, o matemático do JI pergunta-se sobre as imaginações de segundo nível. Imagina, então, se no contexto das representações de segundo nível não haveria também certas imposições que fossem autônomas. Imagina, dessa forma, uma imaginação fundamental.

Por um lado, poderiam existir objetos fora da psique suscetíveis de representações criadas por ela. Tais representações não deveriam admitir padrões que não fossem aqueles determinados exclusivamente pelos padrões próprios dos objetos. No máximo, a psique poderia criar imaginações correspondentes de alguma forma a tais padrões. Por outro lado, as representações de segundo nível poderiam constituir elas próprias objetos com padrões característicos que se impõem autonomamente à psique.

O exemplo das representações de conjuntos "C1, C2, ..., Cn" sendo agrupadas em uma representação de segundo nível no conjunto C = {C1, C2, ..., Cn} torna-se um paradigma para tudo o que o matemático fará em seguida no JI.

As imaginações serão imaginadas agrupadas em complexos conjuntos de imaginações estruturados em um padrão característico , numa referência a Jung, porque possuem padrões próprios como objetos autônomos. Referindo-se a Freud o matemático do JI poderá admitir o Ego, o Superego e o Id, como complexos destacados no jogo JI. Nesse ponto, uma imaginação de segundo nível impõe-se necessariamente ao matemático do JI: o conjunto de todos os complexos pertencentes à psique constitui um complexo, mais precisamente o complexo "matemático do JI"? O matemático do JI já se definiu como uma função operadora apenas, uma capacidade de imaginar, uma psique ou matéria configurada em estado de informação. É importante enfatizar que os complexos produzidos por esta capacidade têm poder de alterá-la, daí a importante tarefa do JI de saber como e por quê.

Essa capacidade, a psique, não forma um complexo estruturado estando sempre indefinida e incerta, nunca sendo algo, sempre parecendo ser um potencial de possibilidades. A psique não é um ser, é um parecer. Ou ainda, a psique é um ser flutuante. A psique não é, ela se parece com possibilidades. As possibilidades não são, elas parecem que podem ser.

Complexos "maiores" terão que ser admitidos no JI porque parecem impor-se como "plano de fundo": as ciências, as crenças, as filosofias, as ideologias, etc. Entretanto, na investigação do sofrimento psíquico para melhorar a qualidade de vida, o matemático do JI deverá dar prioridade a certos complexos de imaginações seguindo as pistas sugeridas por neurocientistas, psicólogos e filósofos os quais se debruçam a seu modo sobre o problema da estrutura da psique.

A primeira tarefa do matemático do JI na elucidação do sofrimento psíquico consiste em caracterizá-lo. Isto é, em saber qual é o significado dessa expressão e quando ela designa um "objeto". Ora, um "objeto", no contexto do JI, só pode ser uma representação de primeiro ou de segundo nível;
ou ainda, uma imaginação ou uma imaginação de imaginações, que são as ações disponíveis à psique. Cabe, portanto, "objetivar" a imaginação "sofrimento psíquico".

O matemático do JI toma o exemplo do "sentir frio". Qualquer que seja a elucidação do significado de "sofrimento psíquico", ele deverá dar conta do "sentir frio" e incluí-lo na lista de "sofrimentos psíquicos".

Qual é, então, a estrutura, ou o padrão, de "sentir frio" no que concerne à sua qualidade de "sofrimento psíquico" enquanto objeto? O matemático do JI não pode negar que é a dor, uma imaginação que se impõe à psique como de primeiro nível, como pulsão ou instinto, que é representada em segundo nível como obstáculo ao movimento da psique. A dor é representada como condição da matéria (corpo) no sistema "matéria no estado de informação", ou seja, no sistema "psíquico".

Em outros termos, a psique nunca deixa de ser matéria, embora sob a condição "estado de informação", e, portanto, o matemático do JI localiza na dimensão material a dor ou o sofrimento psíquico "sentir frio". Portanto, a qualidade de objeto da dor se traduz em dimensão material para o matemático do JI.

Por simetria, o matemático é logicamente forçado a admitir a "não dor", isto é, a representação de primeiro nível correspondente à "ausência da dor". Pode utilizar expressões como "prazer" ou "felicidade". Generalizando, como é próprio do matemático do JI, ele imagina as imaginações de primeiro nível como expressões objetivas da dimensão material da psique. A dor ou o sofrimento psíquico é apenas uma delas.

Enquanto matemático, ele não pode deixar de considerar uma outra simetria. Se a dor, na dimensão material da psique, dificulta o seu movimento, então não pode também ocorrer o inverso? No jogo JI, o matemático admite que isso é natural por razões de simetria e para que o jogo seja mais elegante. Portanto, o matemático estabelece o postulado: o sofrimento psíquico no jogo JI é uma via de mão dupla; por razões de simetria, uma dor — imaginação de primeiro nível — associa-se à dimensão material da psique — imaginação de segundo nível — e, reciprocamente, a dimensão material associa-se a uma certa imaginação de primeiro nível. Em segundo nível, a imaginação dimensão material da psique pode criar uma dor.

O matemático do JI define, então, fantasia ou desejo como sendo qualquer imaginação de segundo nível. Na tentativa de definir o sofrimento psíquico, o matemático do JI se depara com uma dificuldade. Não consegue mais do que trocar "sofrimento" por "dor" e supor que "dor" seja um obstáculo ao movimento da psique. Parece pouco à primeira vista. Entretanto, examinando com mais cuidado, o matemático se convence que se trata de um modelo simples, elegante e de grande poder descritivo. Ele elucida, por exemplo, um significado importante do cenário em que um indivíduo afirma que "não suporta esse frio" ou que "não consegue mais viver dessa maneira".

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