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O matemático e o Jogo Interior I

Em termos teóricos, o indivíduo matemático particular dá-se por satisfeito, mas na prática quer saber como neutralizar o sofrimento psíquico. Precisa saber como as probabilidades contribuem para o sofrimento ou prazer de estar vivo e, portanto, não lhe é útil apenas saber que sua essência é a de um "ser material flutuante". É necessário saber como suas energias componentes configuram o ser flutuante. É assim que o indivíduo matemático vai, então, buscar a estrutura Freudiana ou Junguiana da psique humana.
  O jogo da qualidade de vida VI

No JI, o matemático quer saber como neutralizar o sofrimento psíquico. Para isso, precisa saber cada vez mais e melhor sobre o que é o seu "ser psíquico". A pista inicial é a de que seu "ser" é justamente "um corpo (matéria no estado de informação) que imagina, que se imagina e que imagina suas imaginações".

A imaginação do frio é uma representação de uma condição material da psique. Certas condições materiais podem ser imaginadas como pulsões ou instintos. Por definição, o matemático do JI denomina por pulsão toda condição material que produz uma imaginação, isto é, que faz a psique se movimentar da forma em que ela é capaz. Também por definição a psique do matemático do JI sabe que se movimenta, isto é, imagina o próprio movimento. Isto se deve à condição de representar suas representações, ou de imaginar suas imaginações. Os instintos ou pulsões são, portanto, certas condições materiais da psique processadas como imaginações de primeiro nível que se impõem no movimento da psique e não podem ser de imediato, ou facilmente, transformadas ou destruídas. Recordemos que, para o matemático do JI, imaginações são sempre energia no estado de informação, ou matéria no estado de informação.

O problema de eliminar o sofrimento psíquico para o matemático do JI é, portanto, um problema de controle ou domínio de imaginações. Entretanto, controle ou domínio só podem ser novas imaginações para a psique, pois é a única capacidade disponível a ela. A pergunta básica que o matemático do JI pode então fazer é a seguinte: como uma imaginação pode controlar ou dominar outras imaginações?

Por exemplo, como imaginar a eliminação da imaginação do frio? Eliminar a imaginação do frio é eliminar a pulsão "sentir frio".

O matemático enquanto psique sabe que não foi "ele" que produziu o "frio". Isto é, a psique sabe que representa em primeiro nível obrigatoriamente. Sua capacidade de representar em segundo nível inclui a representação da inevitabilidade das representações de primeiro nível. Em outras palavras, as pulsões são inevitáveis porque são a ligação da matéria pura que suporta a psique com esta última. Se não existe esta ligação, então a matéria é pura e suas propriedades não flutuam, isto é, não exibe o estado de informação, não sendo, portanto, psique.

Assim, imaginar que as pulsões e instintos são inevitáveis, é uma representação de segundo nível. A inevitabilidade é uma imaginação que abre a possibilidade da dimensão exterior da psique. Se uma imaginação impõe-se à psique, então pode não ser criação dela; pode ter uma causa ou uma razão externa. O matemático do JI, então, imagina imediatamente o interior ou uma dimensão pertencente à psique por oposição e por necessidade de completar uma simetria. As imaginações "interior" e "exterior" da psique estão estreitamente ligadas ao movimento da psique. Por definição, ela é algo que se movimenta e se "imagina" fazendo isso. Entretanto, imaginar-se em movimento implica em imaginar também a possibilidade de "parar" ou "continuar". As imaginações "parar" e "continuar" pertencem à imaginação do movimento. Movimento é justamente não estar parado e continuar não parado; portanto, imaginar-se em movimento só é possível para um sistema que é capaz igualmente de se imaginar parado.

Movimento também contém a imaginação do tempo. Imaginações distintas implicam o tempo. Se a psique imagina a distinção de imaginações, então ela imagina uma e outra e, portanto, imagina uma sucessão. Daí para a imaginação da sucessão infinita é apenas um passo natural para a psique a partir da imaginação de todas as sucessões distintas. Uma sucessão infinita não é senão o tempo.

Essa é a imaginação mais importante do matemático no JI: a do infinito. Ela inclui a imaginação "número". A intuição de número é imaginação em segundo nível porque a "sucessão" é assim. Exemplificando, o matemático do JI tem a intuição dos "números naturais" quando imagina a distinção de imaginações de primeiro nível. Apenas quando se imagina imaginando é que a distinção se revela e, portanto, a intuição de número se expressa. Portanto, ao contrário do que imagina o senso comum, a intuição é imaginação de segundo nível, não é primária ou de primeiro nível como o instinto e as pulsões.

Uma conseqüência imediata é que o matemático do JI pode imaginar-se como professor de matemática, necessariamente, apenas como uma psique que lida com imaginações de segundo nível de outra psique, o seu aluno. Trata-se de uma relação sutil e delicada de interferência psíquica mútua.

O matemático do JI, para imaginar-se professor de matemática, necessariamente deve imaginar a "existência" de outra psique. "Uma" e "outra" implica distinção e, portanto, implica o problema do relacionamento entre "duas" psiques, que é novo e ainda inexplorado.

Dificilmente essa relação será "bem sucedida" a não ser na situação um a um, ou seja, uma psique com outra, ou um professor para um aluno. Isso explica por que os sistemas educacionais mostram-se como "inúteis" ou "deformadores de seres psíquicos".

Por motivo de precisão e clareza, enfatizamos que é, portanto, perfeitamente possível para a psique imaginar a imposição das imaginações de primeiro nível. Estas não podem ser eliminadas nem transformadas de imediato; impõem-se autonomamente. Tal imposição é o que constitui a imaginação do "externo" à psique, daquilo que "está fora" da psique. Insistimos que, para o matemático do JI, o externo é uma imaginação tão somente, não havendo para ele razão suficiente para supor "um mundo real independente" de sua psique.

Para o matemático do JI, este é o problema do objeto no JI. Objetos são imaginações que se impõem autonomamente. Existiriam "entes" independentes e fora da psique causando tais imaginações que se impõem porque são determinadas, de alguma forma, pelos padrões próprios destes "entes"? Em outras palavras, existe uma realidade fora da psique que a inclua?

No jogo JI, isso não importa. O matemático do JI não imagina, nesse contexto, como alcançar o ser do objeto nesse sentido de existência independentemente e fora de sua psique. Porque, enquanto matemático, não se sente autorizado a dar passos largos em dimensões incertas e não fundamentadas. Não se sente autorizado a supor a existência de qualquer coisa que não seja uma imaginação de primeiro nível que se imponha inexoravelmente.

  

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