Bento de Jesus Caraça
Foi um matemático português e professor universitário. Nascido a 1º de Abril de 1901, na Rua dos Fidalgos, em Vila Viçosa, numa modesta dependência do Convento das Chagas, onde se alojavam alguns criados da casa de Bragança, Bento de Jesus Caraça era filho de trabalhadores rurais. Viveu os primeiros cinco anos da sua vida na herdade da Casa Branca, na freguesia de Montoito, onde aprendeu a ler e escrever com um trabalhador, José Percheiro.
A extraordinária rapidez com que aprendia, impressionou a esposa de Raul de Albuquerque (de quem o pai de Bento era feitor), que decidiu tomar a seu cargo a educação do jovem, sem suspeitar que estava a lançar as sementes do saber naquele que viria a ser, um dos mais notáveis vultos da ciência e da cultura portuguesas.
Tendo concluído com distinção o exame de instrução primária em 1911, em Vila Viçosa, Bento Caraça fez depois o curso liceal nos Liceus de Santarém e Pedro Nunes, em Lisboa, ingressando, em 1918, no Instituto Superior do Comércio, nome então dado ao actual Instituto Superior de Economia e Gestão. Ao mesmo tempo, dava explicações para poder custear os seus estudos. Logo em Novembro de 1919 foi nomeado segundo assistente do primeiro grupo de cadeiras do ISCEF. Licenciou-se com altas classificações em 1923, passando a primeiro assistente em Dezembro de 1924. Três anos depois era nomeado professor extraordinário e professor catedrático da 10ª cadeira (Matemáticas Superiores, Algebra Superior, Princípios de Análise lnfinitesimal e Geometria Analítica) em Dezembro de 1929.
O regime fascista não lhe perdoou a inabalável dedicação à causa da classe operária. Constantemente perseguido, nunca abdicou dos seus ideais. Acabou por ser preso pela PIDE e, posteriormente, demitido do seu lugar de professor catedrático do ISCEF em Outubro de 1946.
Foi matemático de valor, pedagogo e conferencista incansável, apostando na democratização da cultura como processo inseparável da luta pela transformação da sociedade. Teve um papel destacado na acção da Universidade Popular Portuguesa, de que foi presidente durante anos consecutivos, aí contribuindo para elevar a educação dos trabalhadores e sublinhando a. importância das organizações sindicais no processo de libertação dos seus membros através da cultura.
Deixou-nos uma vasta e diversificada obra, da qual destacamos: Conceitos Fundamentais de Matemática; Cálculo Vectorial e Sobre a aplicação de um grupo de fórmulas de cálculo das probabilidades na teoria dos seguros de vida. Morreu em 1948, vítima de uma doença cardíaca incurável.