Código e Arte: A Etnomatemática dos Incas (página 2)
Resultados
I. PALAVRAS-NÚMERO
As palavras, em Quechua, que designam cada um dos algarismos de 1 a 10, constituem uma lista básica de palavras-número, que serão usadas na composição de palavras-número mais complexas.
juk – 1, iskai – 2, kimsa – 3,
tawa – 4, pichqa – 5,
soqta – 6,
qanchis – 7, pusaq – 8, isqon – 9, chunca – 10.
As palavras-número mais complexas apresentaram a seguinte forma:
[multiplicador] {núcleo} (adicionador), sendo o núcleo composto por uma base decimal, chunca – 10, pachak – 100 e waranqa – 1000.
Exemplos:
qanchis chunca pichqa
[7] {10} (5) = 705
kimsa pachak tawa chunca qanchis waranqa iskai
[[3] {100} ([4] {10} (7))] {1000} (2) = 347,002
II. QUIPUS
Observou-se que um quipu tem uma corda que é mais grossa que as demais, denominada corda principal e da qual estão suspensas outras cordas. Quando se estende a corda principal sobre uma superfície plana, a maioria das cordas direciona-se para baixo, estas se denominam cordas pendentes.
Às vezes, algumas das cordas suspensas direcionam-se para cima e por isso denominam-se cordas superiores. Suspensas de algumas ou de todas as cordas pendentes ou superiores existem outras cordas denominadas subsidiárias. Estas podem conter cordas suspensas delas, de maneira que pode haver subsidiárias de subsidiárias e assim por diante.
Um tipo especial de corda pode ser conectado ao final da corda principal e por esse motivo recebe o nome de pendente final.
Quanto aos nós, observou-se três tipos: simples, que representam a base decimal, alongados, que representam dígitos entre 2 e 9 e, nós em formato oito, que representam o número 1. O conceito de zero era subentendido.
Discussão
A partir da lista básica de palavras-número, formadas a partir do alfabeto Inca Simi (TABELA 1), pôde-se observar a relação entre os números e as consoantes na formação de mensagens, como, por exemplo, Rimaisi masi, do Quechua, que pode ser traduzido como aquele que ajuda a falar mais. Para a construção desta mensagem usou-se a seqüência de números: 5, 3, 6, 3, 6, que equivale, respectivamente, à seqüência de consoantes: r, m, s, m, s.
Os primeiros quipus eram brancos, mas devido à grande quantidade de informações, tornou-se necessário acrescentar novas cores para diferenciá-las.
Um quipu pode, então, ser entendido como uma reunião de cordas de diversas cores, com nós dispostos em espaços regulares (FIGURA 1).
O espaçamento de um nó, relativo a outro, indica a diferença de valores entre eles (FIGURA 2). A cor das cordas é fator muito importante, pois cores diferentes podem representar diferentes tipos de dados, esta notação pelas cores assemelha-se à notação matemática de variáveis reais representadas por letras.
Num quipu, as cordas podem ser agrupadas por cores, por blocos espaçados ou por blocos de cores espaçados. Outro modo de organizar um quipu consiste em utilizar o conceito matemático conhecido por estrutura de árvore.
A leitura matemática do mundo vem muito antes do processo de alfabetização numérica (Ferreira, 1997). Acreditamos que essa associação pode ser feita com os incas, que faziam uma leitura matemática do mundo, muito antes de registrá-la nos quipus.
TABELA 1
FIGURA 1 |
FIGURA 2 |