Iniciação matemática para portadores de deficiências mentais - parte 8
Em 1999, a Secretaria Municipal de Educação de Sorocaba (São Paulo), acabou com as classes especiais e passou a matricular todos no sistema regular de ensino. Para auxiliar o processo, foram criados o Núcleo de Capacitação para o Ensino Fundamental – composto por supervisores, coordenadores e professores formadores que promovem o treinamento continuado do quadro docente – responsável pelo atendimento extracurricular dos alunos. “Desde o início do projeto, o índice de evasão diminuiu e o preconceito foi podado pela raiz”, comemora a atual Secretária de Educação em entrevista à revista Nova Escola. As principais medidas tomadas foram:
* estímulo para que as escolas elaborem sua proposta pedagógica, diagnosticando a demanda por atendimento especial;
* criação de um currículo que reflita o meio social;
* apoio à descentralização da gestão administrativa;
* oferta de transporte escolar para todos.
A Constituição garante a todos o acesso à escola. “Toda unidade deve atender aos princípios legais e não pode excluir ninguém”. A legislação mais recente sobre o assunto é a Convenção de Guatemala. O documento, promulgado no Brasil por decreto de 2001, reafirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos e liberdades que as demais.
A inclusão de estudantes com deficiência nas classes regulares representa um avanço histórico em relação ao movimento de integração, que pressupunha algum tipo de treinamento do deficiente para permitir sua participação no processo educativo comum. “A inclusão postula uma reestruturação do sistema de ensino, com o objetivo de fazer com que a escola se torne aberta às diferenças e competente para trabalhar com todos os educandos, sem distinção de raça, classe, gênero ou características pessoais”, explica Cláudia Dutra, secretária da Educação Especial do MEC em entrevista. Por isso, reforça ela, todas as crianças que estão nas escolas especiais têm o direito constitucional de entrar no sistema regular, em turmas condizentes com sua idade.
Iniciação matemática para deficientes mentais
Procuraremos abordar alguns aspectos sobre o ensino da matemática para o deficiente mental treinável, visto o desconhecimento sobre o conteúdo de noções básicas por parte do professor e consequentemente prejuízo quanto às aquisições realizadas por parte do aluno deficiente mental.
A aquisição mental do número não se dá por simples aprendizagem. Segundo Piaget, para começar a operacionalizar o número, conceitualmente, a criança deve estar perceptivamente matura e ter determinadas estruturas mentais. Por meio de atos exploratórios, a criança verifica as relações numéricas: por exemplo, um conjunto constituído por quatro objetos é maior que um constituído por dois objetos.
Entretanto isso não ocorre com o aluno deficiente mental: uma forma de aprendizagem inadequada ocorre com este aluno no que se refere à contagem. Há uma falta de habilidade facilmente observada neste aluno. É comum ouvi-lo nomear a seriação: Um, dois, três, quatro...” atingindo numeração bem alta, sem conhecer o seu significado. Ele recebeu esta informação do ambiente e foi largamente reforçado para expressa-la de forma oral e, às vezes, de forma gráfica; seu comportamento, no entanto indica que, para ele, a contagem carece de qualquer significado. Caso este aluno continue a receber orientação inadequada, permanecerá expressando esta numeração sem compreender o significado da contagem.
Um outro tipo de contagem comumente encontrado no aluno deficiente mental é a descrita a seguir. Colocando-se sobre uma mesa uma série de objetos (lápis, por exemplo) alinhados e solicitando-se a este aluno que faça a contagem, observa-se que ele executa, sem estabelecer correspondência entre quantidade e a nomeação. Ele fala: “um’ colocando o dedo no primeiro objeto; fala ‘dois” colocando o dedo no espaço existente entre o primeiro e o segundo objeto, fala: “três” colocando o dedo no segundo objeto. Assim, continua sua contagem nomeando inadequadamente a quantidade, por não haver correspondência com os objetos que conta.
O aluno deficiente mental não consegue adquirir as noções básicas para a aprendizagem da matemática devido à limitação de suas experiências e, consequentemente, tem dificuldades de efetuar as necessárias construções lógicas.
Conforme Séguin (1846), o ensino da iniciação à matemática para o deficiente mental tinha como objetivo familiariza-lo com as quantidades observáveis na vida prática.
Para Montessori (1965), o ensino da numeração falada e iniciação aritmética para o aluno deficiente mental deveria ser ministrado partindo sempre do concreto.