Iniciação matemática para portadores de deficiências mentais - parte 9
Conceitos básicos
A matemática ensinada para ao aluno deficiente mental é a mesma ensinada para qualquer aluno, portanto o professor deve, também, conhecer os conceitos ou noções básicas da matemática, afim de melhor aplicar os procedimentos de ensino. Iremos retomar rapidamente alguns conceitos indispensáveis.
1. Número/Numeral
Imagina-se que, bem remotamente, o homem, para conferir o seu rebanho, fazia a correspondência entre um animal e uma pedrinha. Da prática desta abstração surgiu a noção de número. Daí, provavelmente, surgiram os sistemas de numeração: substituição das pedrinhas pelo uso dos dedos de uma mão e, posteriormente, da outra mão. Consequentemente, teve inicio o sistema de base cinco, ou seja, as unidades agrupadas de cinco em cinco.
Número: O conceito atual de número não é mais derivado da arte de contar, muito menos da sintetização, numa idéia abstrata de uma coleção de objetos.
Exemplo: O número 3 (três) não é o símbolo de um grupo de três objetos, mas representa a classe de todos os grupos de três objetos. Surge então a definição moderna de número: “É a classe de todas as classes de uma classe dada”.
Numeral: É qualquer nome ou símbolo usado para expressar o número. O número é a idéia, e o numeral é a representação dessa idéia. É comum haver a introdução do ensino do símbolo (numeral) sem o referido aluno compreender o número; devemos ter muita cautela para evitar isso.
Convém estabelecer a diferença entre sistema de numeração e sistema numérico. Enquanto aquele é o conjunto de símbolos usados para expressar os números, este “é um conjunto de números, de operações definidas nesse conjunto e de regras que governam essas operações”.
2. Base
O professor de deficientes mentais deve conhecer noções sobre base para melhor atuar no trabalho com seus alunos.
Base é o número que representa as unidades, de uma ordem qualquer, que são necessárias para formar uma unidade imediatamente superior. O nome do sistema formado pela base é dado pela base.
Para o sistema de numeração indo-arábico a base é 10; provavelmente determinado pela quantidade de dedos das mãos: dez. Além da base dez são usadas outras como: base 2 (binária), base cinco (quinária), base 12 (duodecimal).
Para obter as diferentes bases de um número, existem dois métodos: dos subconjuntos e das divisões sucessivas. Falaremos apenas do método dos subconjuntos que condiz mais com nosso propósito:
Método dos subconjuntos: Consiste na formação, em um conjunto dado, e sucessivamente de subconjuntos com n, n2, n³ ,n4,... elementos e escrita dos números na base correspondente.
3. Conjuntos
É um conceito primitivo. Não admite definição. A idéia de conjunto está associada à idéia de agrupamento, coleção.
Além do conhecimento sobre conceitos básicos de número/numeral e base, outro aspecto fundamental para o ensino da matemática, diz respeito à habilidade de ensinar o aluno a fazer agrupamentos. Isso é problemático para o aluno deficiente mental devido à pobreza de vocabulário geralmente apresentada por este aluno.
Para Dienes (1970 e 1977), existe um mundo intermediário entre o mundo dos objetos e dos números: é o “mundo dos conjuntos”. Daí, conjuntos devem ser ensinados a fim de fazer parte do repertório comportamental do aluno deficiente mental para que ele possa construir os números. E, para isto, é necessário que o professor conheça a noção básica sobre conjuntos.
Certos números são perceptivamente identificados pela criança como uma qualidade particular dos conjuntos pequenos. Assim, da mesma forma que a criança vê o atributo cor para conjunto de quatro bolas vermelhas, vê também o atributo número para o mesmo conjunto. É a aprendizagem da qualidade numérica.
Obsevando-se que no inicio o pensamento espontâneo da criança constrói uma aritmética e que os números são conhecidos pela visualização, os dados dos estudos realizados por Bandet, Mialaret e Brandicourt (1965) aconselham a iniciar o ensino dos conjuntos pelo agrupamento de dois elementos. Em seguida, introduzir três, quatro. O “um” surgirá da comparação. E, finalmente, vem a aquisição das quantidades de cinco a dez.
Para Bandet, Mialaret e Brandicourt (1965) e Bandet, Sarazanas e Abbadie (1967) existem dois procedimentos para ensinar as quantidades até dez. O primeiro procedimento consiste em fazer a correspondência entre objetos e palavras (um, dois, três...). O outro procedimento é através da identificação perceptual (estímulos discriminativos) da quantidade: é a figura perceptivamente convencional da quantidade. De acordo com este procedimento, o conjunto é uma imagem falada do número. Em seguida, chega-se à outra etapa deste procedimento: a introdução do numeral (símbolo da quantidade).